Está na moda buscar ajuda profissional para tudo:
perder peso, mudar de carreira, passar em um concurso, administrar o tempo e a
conta bancária. E o nome da vez é coaching. [...]
O coaching pode ser um processo de aumento de
resultados, pessoais ou profissionais. Pode ser uma espécie de treinamento,
como nos esportes – é daí que vem o termo, em inglês – para que se alcance
metas. Pode ser uma parceria e um processo de autodescobrimento. Ou pode ser
tudo isso. A palavra é um tanto quanto nova no vocabulário do brasileiro.
Apareceu por aqui há não mais do que 15 anos e há cinco vem ganhando certa
fama. Mesmo nos Estados Unidos, onde surgiu, não é algo muito antigo:
especialistas calculam três décadas de existência. Acredita-se que o conceito
tenha sido herdado do esporte de alto rendimento: a ideia de que a figura de um
técnico, o coach, pode ser a chave para guiar uma pessoa ao sucesso, no
esporte, nos negócios e na vida pessoal, por meio de estratégias bem definidas
e traçadas ao longo de um processo que dura, em média, quatro meses.
Não confunda:
- Coach: profissional que conduz o processo.
- Coaches: plural de coach
- Coachee: aquele que passa pelo processo de
coaching
- Coaching: o processo
A história não é consenso. A definição também não.
Mas o uso do serviço de coaching, [...], tem criado no Brasil um nicho de
mercado considerável, a ponto de alguns chamarem de “profissão do futuro”.
[...]
[...]
O título, no entanto, não é exclusivo de
administradores ou pessoas com longas carreiras em cargos executivos. Tampouco
de psicólogos ou educadores físicos. Apesar disso, a técnica soa muitas vezes
como uma sessão de terapia: promove autoconhecimento, melhora relacionamentos,
estimula crescimento pessoal. Coaches e psicólogos avisam: não passa de
confusão. Por vezes, as duas profissões se estranham. “A verdade é que ambos,
bons coaches e bons terapeutas, lidam com conflitos internos”, diz o psicólogo
Michael Bader, doutor pela Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos. “Os
coaches hoje estão se organizando como profissionais, mas usam fundamentos
básicos da terapia, como ouvir ativamente, empatia, se colocar do lado do
paciente... Coisas que o psicólogo Carl Rogers enfatizava mais de 50 anos
atrás. Claro que existe muito criticismo e maledicências. Mas, no fim, todo
mundo que alimenta essa rixa está errado, se autopromovendo por motivos
financeiros e de status.”
O fato é que o mercado não dá sinais de que o
coaching é apenas modismo – pelo contrário. Estima-se que existam hoje mais de
45 mil coaches no mundo. [...]
No Brasil, fica claro que o coaching tem ganhado
adeptos. Aos poucos, o método deixa de ser visto como uma prática corporativa e
conquista executivos, gente que quer mudar de carreira, emagrecer, passar em
concursos, ser um líder melhor, ter melhores relacionamentos. Ao mesmo tempo,
pessoas deixam carreiras estáveis e bem sucedidas e, às vezes, os próprios
negócios, para serem os treinadores. [...]
[...]
Não caia no conto
Por ser uma profissão tão recente e sem
regulamentação, fica difícil saber a quem recorrer antes de contratar um
profissional de coaching. Na hora da verdade, o que vale é a identificação com
o coach. Ainda assim, alguns profissionais dão dicas para fazer a escolha
certa.
[...]
- Nenhum currículo é melhor do que as referências
do coach: quem ele já atendeu e quais foram os resultados.
- O processo de coaching tem início, meio e fim.
Tem data para começar e terminar, determinadas antes do início do programa. Não
acredite em profissionais que cobrem por uma só sessão, estendendo o processo
indefinidamente.
Há um denominador comum entre os coaches facilmente
percebido em poucos minutos de conversa: a justificativa dada para explicar por
que deixaram carreiras estáveis, cargos executivos, empregos públicos com altos
salários para se dedicarem a um futuro nebuloso em um novo ramo de atuação.
Paixão, eles dizem. [...]
[...]
Aposta com retorno garantido
A carioca Anna Carolina Pagano, 32 anos, passou de
concurseira a servidora pública do Ministério Público da União há oito meses,
depois de um “treinamento” com coach. “Ele me economizou dois ou três anos de
estudo.” Desde que concluiu a faculdade de direito, Anna Carolina sonhava com
uma vaga na promotoria. Estudando no Rio de Janeiro, viu que dificilmente
passaria em uma prova aqui na capital. Mudou-se de vez para Brasília em 2006.
Sem dinheiro, começou a trabalhar, paralelamente,
como advogada em um escritório particular. Acabou deixando os estudos de lado,
mas, um ano depois, foi demitida e se viu obrigada a voltar para o Rio. Em
2012, no entanto, Anna quebrou o cofrinho, juntou tudo o que tinha na poupança
e voltou para Brasília. “Vim com o dinheiro contado. Aluguei uma quitinete na
Asa Sul e tinha pressa de passar, porque meu dinheiro estava acabando”, lembra.
Quando conheceu o coaching, em 2013, pareceu uma excelente ideia. “Eu estava
desesperada. Ou passava ou ia acabar tendo que voltar para o Rio. Resolvi
apostar”, conta.
Durante o processo de coaching, Anna entendeu que
deveria desistir da promotoria em curto prazo e focar nas vagas para analista,
já que ela tinha urgência, e parar de fazer qualquer concurso que surgisse pelo
caminho para prestar somente aqueles nos quais ela realmente teria chances.
Também foi orientada a organizar a grade de estudos de forma que eles
rendessem. “Hoje, eu tenho plena convicção de que eu não passava porque não
sabia organizar meu material. Eu conseguia resumir capítulos de 100 páginas em
quatro, mas depois não voltava para reler os resumos. Além disso, você
tende a dar mais importância às matérias
de que você gosta mais”, relembra.
Fora a parte prática do processo – organizar,
focar, fazer e passar -, ela conta que o coaching a ajudou também a sair da
zona de conforto. “Se você pensar bem, é melhor você passar as tardes estudando
numa biblioteca do que trabalhando. Então, essa situação acaba ficando
confortável. O coaching me acordou para isso”, conta. O alívio da advogada veio
um mês depois do fim das suas sessões de coaching: ela obteve a segunda maior
pontuação no DF para o cargo ao qual disputava, em uma concorrência de 220
candidatos para cada vaga. Tomou posse de sua vaga em outubro e a agonia de
viver de poupança finalmente chegou ao fim. Por enquanto, o sonho da promotoria
está em segundo plano. “Eu estou trabalhando em uma área que gosto muito e o
cargo de analista está me satisfazendo. Se um dia quiser, volto a estudar da
forma que aprendi.”
Entrevista\Damian Goldvarg
[...]
Damian Goldvarg, atualmente diretor global da
instituição [International Coach Federation], é PhD e tem mais de 20 anos de
experiência em assessoria executiva para empresas, desenvolvimento de
lideranças e planejamento estratégico. [...]
[...]
Qual a diferença entre coaching e psicoterapia?
Pela sua natureza e definição, coaching é diferente
de outras atividades, incluindo terapia. A terapia lida com curar a dor,
disfunções e conflitos em um indivíduo ou em um relacionamento. O foco
geralmente é resolver dificuldades que vêm desde o passado e que atrapalham o
funcionamento emocional no presente. O coaching, por outro lado, é focado no
futuro e dirigido pelo cliente. Ele dá suporte ao crescimento pessoal e
profissional baseado na mudança da iniciativa própria e na perseguição de
resultados bem específicos.
Por que o sucesso repentino dos programas de
coaching no mundo e por que ele tem sido considerado a profissão do futuro?
A popularidade do coaching vem crescendo há muitos
anos. A razão para isso é simples: o coaching dá resultados! Clientes que
participaram de um processo de coaching relatam um aumento considerável na
autoconfiança, nas relações interpessoais e na comunicação, no equilíbrio entre
trabalho e vida, no planejamento do tempo e na performance profissional. Em um
mundo incerto e complexo, o coaching empodera pessoas e organizações, honrando
a criatividade, os recursos e o todo de cada cliente.
[...]
Fonte: Correio Braziliense. Edição de domingo, 30 de março de 2014. Revista do Correio. Ano 9. Número 463.
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