segunda-feira, 31 de março de 2014

Coaching – Treino para a vida

Está na moda buscar ajuda profissional para tudo: perder peso, mudar de carreira, passar em um concurso, administrar o tempo e a conta bancária. E o nome da vez é coaching. [...]

O coaching pode ser um processo de aumento de resultados, pessoais ou profissionais. Pode ser uma espécie de treinamento, como nos esportes – é daí que vem o termo, em inglês – para que se alcance metas. Pode ser uma parceria e um processo de autodescobrimento. Ou pode ser tudo isso. A palavra é um tanto quanto nova no vocabulário do brasileiro. Apareceu por aqui há não mais do que 15 anos e há cinco vem ganhando certa fama. Mesmo nos Estados Unidos, onde surgiu, não é algo muito antigo: especialistas calculam três décadas de existência. Acredita-se que o conceito tenha sido herdado do esporte de alto rendimento: a ideia de que a figura de um técnico, o coach, pode ser a chave para guiar uma pessoa ao sucesso, no esporte, nos negócios e na vida pessoal, por meio de estratégias bem definidas e traçadas ao longo de um processo que dura, em média, quatro meses.

Não confunda:
- Coach: profissional que conduz o processo.
- Coaches: plural de coach
- Coachee: aquele que passa pelo processo de coaching
- Coaching: o processo

A história não é consenso. A definição também não. Mas o uso do serviço de coaching, [...], tem criado no Brasil um nicho de mercado considerável, a ponto de alguns chamarem de “profissão do futuro”. [...]

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O título, no entanto, não é exclusivo de administradores ou pessoas com longas carreiras em cargos executivos. Tampouco de psicólogos ou educadores físicos. Apesar disso, a técnica soa muitas vezes como uma sessão de terapia: promove autoconhecimento, melhora relacionamentos, estimula crescimento pessoal. Coaches e psicólogos avisam: não passa de confusão. Por vezes, as duas profissões se estranham. “A verdade é que ambos, bons coaches e bons terapeutas, lidam com conflitos internos”, diz o psicólogo Michael Bader, doutor pela Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos. “Os coaches hoje estão se organizando como profissionais, mas usam fundamentos básicos da terapia, como ouvir ativamente, empatia, se colocar do lado do paciente... Coisas que o psicólogo Carl Rogers enfatizava mais de 50 anos atrás. Claro que existe muito criticismo e maledicências. Mas, no fim, todo mundo que alimenta essa rixa está errado, se autopromovendo por motivos financeiros e de status.”

O fato é que o mercado não dá sinais de que o coaching é apenas modismo – pelo contrário. Estima-se que existam hoje mais de 45 mil coaches no mundo. [...]

No Brasil, fica claro que o coaching tem ganhado adeptos. Aos poucos, o método deixa de ser visto como uma prática corporativa e conquista executivos, gente que quer mudar de carreira, emagrecer, passar em concursos, ser um líder melhor, ter melhores relacionamentos. Ao mesmo tempo, pessoas deixam carreiras estáveis e bem sucedidas e, às vezes, os próprios negócios, para serem os treinadores. [...]

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Não caia no conto

Por ser uma profissão tão recente e sem regulamentação, fica difícil saber a quem recorrer antes de contratar um profissional de coaching. Na hora da verdade, o que vale é a identificação com o coach. Ainda assim, alguns profissionais dão dicas para fazer a escolha certa.

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- Nenhum currículo é melhor do que as referências do coach: quem ele já atendeu e quais foram os resultados.
- O processo de coaching tem início, meio e fim. Tem data para começar e terminar, determinadas antes do início do programa. Não acredite em profissionais que cobrem por uma só sessão, estendendo o processo indefinidamente.

Há um denominador comum entre os coaches facilmente percebido em poucos minutos de conversa: a justificativa dada para explicar por que deixaram carreiras estáveis, cargos executivos, empregos públicos com altos salários para se dedicarem a um futuro nebuloso em um novo ramo de atuação. Paixão, eles dizem. [...]

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Aposta com retorno garantido

A carioca Anna Carolina Pagano, 32 anos, passou de concurseira a servidora pública do Ministério Público da União há oito meses, depois de um “treinamento” com coach. “Ele me economizou dois ou três anos de estudo.” Desde que concluiu a faculdade de direito, Anna Carolina sonhava com uma vaga na promotoria. Estudando no Rio de Janeiro, viu que dificilmente passaria em uma prova aqui na capital. Mudou-se de vez para Brasília em 2006.

Sem dinheiro, começou a trabalhar, paralelamente, como advogada em um escritório particular. Acabou deixando os estudos de lado, mas, um ano depois, foi demitida e se viu obrigada a voltar para o Rio. Em 2012, no entanto, Anna quebrou o cofrinho, juntou tudo o que tinha na poupança e voltou para Brasília. “Vim com o dinheiro contado. Aluguei uma quitinete na Asa Sul e tinha pressa de passar, porque meu dinheiro estava acabando”, lembra. Quando conheceu o coaching, em 2013, pareceu uma excelente ideia. “Eu estava desesperada. Ou passava ou ia acabar tendo que voltar para o Rio. Resolvi apostar”, conta.

Durante o processo de coaching, Anna entendeu que deveria desistir da promotoria em curto prazo e focar nas vagas para analista, já que ela tinha urgência, e parar de fazer qualquer concurso que surgisse pelo caminho para prestar somente aqueles nos quais ela realmente teria chances. Também foi orientada a organizar a grade de estudos de forma que eles rendessem. “Hoje, eu tenho plena convicção de que eu não passava porque não sabia organizar meu material. Eu conseguia resumir capítulos de 100 páginas em quatro, mas depois não voltava para reler os resumos. Além disso, você tende a dar mais importância às matérias de que você gosta mais”, relembra.

Fora a parte prática do processo – organizar, focar, fazer e passar -, ela conta que o coaching a ajudou também a sair da zona de conforto. “Se você pensar bem, é melhor você passar as tardes estudando numa biblioteca do que trabalhando. Então, essa situação acaba ficando confortável. O coaching me acordou para isso”, conta. O alívio da advogada veio um mês depois do fim das suas sessões de coaching: ela obteve a segunda maior pontuação no DF para o cargo ao qual disputava, em uma concorrência de 220 candidatos para cada vaga. Tomou posse de sua vaga em outubro e a agonia de viver de poupança finalmente chegou ao fim. Por enquanto, o sonho da promotoria está em segundo plano. “Eu estou trabalhando em uma área que gosto muito e o cargo de analista está me satisfazendo. Se um dia quiser, volto a estudar da forma que aprendi.”

Entrevista\Damian Goldvarg

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Damian Goldvarg, atualmente diretor global da instituição [International Coach Federation], é PhD e tem mais de 20 anos de experiência em assessoria executiva para empresas, desenvolvimento de lideranças e planejamento estratégico. [...]

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Qual a diferença entre coaching e psicoterapia?

Pela sua natureza e definição, coaching é diferente de outras atividades, incluindo terapia. A terapia lida com curar a dor, disfunções e conflitos em um indivíduo ou em um relacionamento. O foco geralmente é resolver dificuldades que vêm desde o passado e que atrapalham o funcionamento emocional no presente. O coaching, por outro lado, é focado no futuro e dirigido pelo cliente. Ele dá suporte ao crescimento pessoal e profissional baseado na mudança da iniciativa própria e na perseguição de resultados bem específicos.

Por que o sucesso repentino dos programas de coaching no mundo e por que ele tem sido considerado a profissão do futuro?

A popularidade do coaching vem crescendo há muitos anos. A razão para isso é simples: o coaching dá resultados! Clientes que participaram de um processo de coaching relatam um aumento considerável na autoconfiança, nas relações interpessoais e na comunicação, no equilíbrio entre trabalho e vida, no planejamento do tempo e na performance profissional. Em um mundo incerto e complexo, o coaching empodera pessoas e organizações, honrando a criatividade, os recursos e o todo de cada cliente.

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Fonte: Correio Braziliense. Edição de domingo, 30 de março de 2014. Revista do Correio. Ano 9. Número 463.

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